A professora Cidinalva Câmara, docente da disciplina Estudos Africanos e Afro-brasileiros da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tratou sobre o papel do Feminismo Negro, nesta sexta-feira (24), em entrevista ao programa ‘Diário da Manhã’, da Rádio Assembleia (96,9 FM). O tema marcou o encerramento da série que o programa vem realizando por conta da passagem do Dia da Consciência Negra (20 de Novembro).
Cidinalva Câmara disse, durante a conversa com o jornalista Ronald Segundo, que as mulheres negras estão inseridas em um contexto de desigualdades básicas provocadas pelo racismo e pelo patriarcado.
Ela destacou que, dentre as vertentes do movimento feminista, existe aquele que foca nas especificidades próprias das mulheres negras, denominado de Feminismo Negro. No Brasil, segundo a docente, essa vertente teve início propriamente na década de 1970 com o Movimento de Mulheres Negras (MMN), a partir da percepção de que faltava uma abordagem conjunta das pautas de gênero e raça pelos movimentos sociais da época.
Cidinalva Câmara defendeu a ampliação da educação antirracista, de forma interdisciplinar para que os próprios negros não pratiquem racismo.
“A grande dificuldade é que até hoje a maioria dos brasileiros não se acha racista e estamos tentando superar esse racismo estrutural, por ser estruturante de todas as relações, e as escolas são espaço conservador, que mantêm esse espaço social dividido em termos de gênero, racismo e poder econômico. Mas, estamos superando por meio da própria educação antirracista que precisa ser interdisciplinar, conhecendo a própria história. Não fomos escravos, mas escravizados!”, frisou.
De acordo com Cidinalva Câmara, a situação das mulheres negras é ainda mais preocupante em relação ao preconceito e espaços por trabalho. Ela citou dados do IBGE, de 2022, mostrando que, em um universo de 100 mil nascidos vivos, foram registradas as mortes de três mulheres negras e pardas contra a de uma branca. “É um absurdo, temos que mudar essa dura realidade”, condenou.
A docente ressaltou a educação como forma de superação. Nesse contexto, ela citou o fato de ter trabalhado em serviço doméstico, logo ao chegar do interior para estudar em São Luís, sendo agora professora adjunta da Universidade Federal do Maranhão, atuando na Licenciatura Interdisciplinar em Estudos Africanos e Afro-brasileiros, com graduação em História e mestrado em Ciências Sociais, pela UFMA, e doutorado em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe, com estágio de doutoramento junto ao Institut des Sciences sociales du politique (ISP) / École Normale Supérieure de Cachan (ENS/Cachan).
FONTE: ALEMA